domingo, 11 de maio de 2008

Capítulo 5.

Saiu arrastada pelo braço, olhando para trás. De certa forma, não queria deixar Petry alí. Se aproximaram do palco, onde se encontrava agora um aglomerado de gente. Isa, apertada entre tantas pessoas que pulavam e cantavam as músicas junto com a banda, olhava ao seu redor, como se procurasse alguém. E procurava. Quando se deu conta disso, sem entender o que estava acontecendo com ela, tentou prestar atenção na música rápida que tocava.
“O que tá acontecendo comigo???” Se perguntava.
Do outro lado, Petry sentia a mesma coisa, e olhava a todo instante para o palco. As meninas da banda estavam se preparando e ela com a visão fixa para frente. A primeira banda terminou o show e a próxima era a de Petry. Isa esperava, ansiosa, mas disfarçadamente.
As meninas subiram no palco e de primeira mandaram "The hunger" e todo mundo viajando no solinho do baixo, enquanto Petry encarava Isa, não conseguiram disfarçar que estavam uma fixada na outra. Petry sorria por saber muito bem que sentimento a tomava, já Isa se sentiu completamente perdida, não entendia porque aquela menina prendia tanto a sua atenção.
Petry tinha um jeito peculiar de manusear sua guitarra, ficando assim ainda mais destacada do resto da banda, ou talvez essa fosse apenas a visão de Isa. A principio quando seus olhares se cruzavam, Isa tentava disfarçar olhando para a vocalista e seu moicano colorido. Depois de algum tempo, já conseguia olhar nos olhos de Petry, mas ainda não por muito tempo. Elas tocaram por cerca de meia hora e foram extremamente aplaudidas quando saíram. Lu puxou uma conversa com Isa, mas esta não conseguia fixar sua atenção em palavra nenhuma, apenas concordava com a cabeça. A iluminação do palco baixou, mas mesmo assim pôde observar quando a banda de Petry saiu pela lateral, tentando tomar o rumo do bar. Algumas meninas puxavam Petry pelo braço, tentando comentar o grande show que elas haviam feito, mas ela continuava caminhando e sorrindo agradecida. As outras garotas da banda também eram “assediadas”, mas a atenção de Isa se fixava na guitarrista com os cabelos revoltos. Quando Petry começou a conversar com certa menina, uma loira que tinha nas costas uma guitarra, bem bonita pelo que era possível observar e aparentava ter uns 17 anos, Isa se sentiu mais estranha do que já estava se sentindo. Observou as duas sorrirem uma pra outra e as tantas vezes que a loira falava e encostava no braço de Petry. Sentiu uma pontada de algo que não sabia.“Será que elas tem algo?” Pensava. E em seguida se censurava.

(...)

- Amiga, grande show! – disse a loira.
- Poxa, obrigada, Sal! Não tinha te visto por aí ainda!
- É... Cheguei e vocês já estavam lá atrás se arrumando, nem deu tempo de dar um oi pra Yah.
- Então, ela me perguntou se tinha te visto... Deve estar descendo já, ela tá arrumando as coisas dela lá, já deve descer!
- Ai Petry, vamos beber alguma coisa?!
- Vamos, to morrendo de calor! Vocês tocam depois da próxima banda, né?
- Aham. A gente... – e antes que pudesse terminar a frase, Yahara a abraçou por trás.

(...)

- Isa, vou subir lá arrumar as coisas. Quer subir com a gente?
- Não, Lu. Obrigada. Vou ficar aqui mesmo, te espero. Bom show!!!
- Valeu! E te cuida pra não ser agarrada, heim! Hahaha. Isso que é foda aqui. Olha lá a Yahara agarrando uma guria! Nem tem vergonha! Bom, vou lá. Até daqui a pouco!
E subiu, deixando Isa sozinha, mas mais tranqüila por ver a loira abraçada carinhosamente com Yahara, e não com Petry. Continuou olhando perdida por alguns instantes, até que percebeu que Yah olhava e acenava pra ela. Fingiu se distrair e olhou pro palco.

(...)

- Pê! A barbeira não pára de olhar pra cá! Olha lá, a Lu deixou ela sozinha! Tá esperando o que? Vai lá conversar com ela.
- Ai Yah, não sei se é uma boa idéia, ela é estranha e nem sei se ela é.
- Vai lá e descobre, chama ela pra ir com a gente no bar depois.
- Tá, eu chamo ela pra ir e você descobre pra mim se ela é, tá?!
- Ai, Pê! Vai logo lá, vai.
Isa sentiu o rosto queimando quando viu que Petry caminhava em sua direção, sorridente. Queria parecer tranqüila, mas não conseguia. Estava chocada ao ver Yah e Sal se beijando. Já tinha visto filmes, cenas de beijos entre meninas, mas assim, na sua frente, tinha sido a primeira vez e ficou pensativa, sentiu-se curiosa.

(...)

- Oi Isa!
- Petry? É... oi!
- Gostou do show?
- Sim, gostei! Eu adoro "The Hunger", é uma das poucas músicas com gritos que consigo ouvir.
- Rs... Sei bem como é isso, minha mãe sempre reclama.
- Ah, meu gosto musical é estranho.
- Ah é? Estranho como?
- Tudo misturado.
- Hum... Mas se gosta de Distillers já é ótimo.
- Não conheço muito na verdade, mas essa música é legal.
- Você fala inglês, Isa?
- Sim, tenho curso. Por quê?
- Já viu a letra dessa música?
- Rs... Sim, já! Eu gosto do solo do baixo.
- Eu gosto da letra.
Petry ficou olhando firme, ao dizer isso, como se dissesse: "é o que você precisa saber" e Isa não queria aceitar que aquilo tinha sido uma indireta.
- A gente vai pra um bar depois do show, ta a fim de ir?
- Ah não, eu preciso ir pra casa, meu pai ta sozinho.
- Ah, que isso, vamos lá com a gente? Vai ta legal, as meninas todas vão, acho que até a Lu vai.
- Ah, eu vejo com a Lu, se ela for mesmo, eu ligo pro meu pai e qualquer coisa, eu passo lá.
- Vê sim, seria legal se você fosse.
- Rs, ah é? E por quê?
- Ah, porque sei lá, vai tá cheio de gente e você vai conhecer mais o pessoal.
- Hum... Tá, se eu for, a gente se vê.
Concordaram com a cabeça.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Capítulo 4.

Desceu as escadas correndo, só de toalha, o celular estava tocando na sala, tinha que perder a mania de deixar o aparelho pela casa, nunca sabia onde estava. Mandou duas almofadas para o ar e atendeu, ofegante:
- Oi?
- Isa?
- Oi, quem é?
- É a Lu, tudo bem?
- Oii, Lu! Tudo bem e você?
- bem, acabei de sair da aula. Viu, vai ter show da banda hoje, você poderia ir e chamar as meninas, ?
- Hoje? Ai, tava pensando em estudar...
- Ai Isa, pára com isso, vocês nunca viram a banda tocando. Vamos lá, mew. Vai tá divertido. É tipo um festivalzinho, vai ter outras bandas de meninas e tal. Vamos?
- Hmm.. Vou ver com as meninas e te ligo, pode ser?
- Ah, então tá bom. Vê aí e qualquer coisa me liga.
- Ligo sim, Lu. Beijo.
- Beijo, tchau-tchau.
Desligou e ficou por alguns momentos pensando se deveria ir ou não.
“Ai, show de bandas de meninas, concentração de menina descolada e eu desse jeito, até vendo. Vou ligar pra Za.”
Zara e Gisele estavam juntas, e pela hora, já haviam arrumado outro compromisso. Sairiam com uns garotos.
- Não quer vir junto, Isa? Tem um amigo deles pra você! Hahaha
- Não... Eu só liguei mesmo porque a Lu pediu. Vou ficar em casa hoje e estudar.
- Ok, então. Até amanhã. Beijos.
Vestiu um pijama e abriu a apostila.


Petry entrou em casa, louca por um banho, havia voltado a pé do ensaio da banda e tinha que chegar antes das 11 em casa, para sua mãe não desconfiar que tinha faltado a faculdade. Tomou banho, se vestiu, colocou a guitarra nas costas e foi até o portão esperar a carona.
Yahara chegou em seguida com seu sorriso enorme habitual, tocava bateria na banda de Petry.
-oiêeeeeee! entra aí, joga o cubo mais pra lá.
-tá bom. você nem atrasou, o que aconteceu?
-meu pai queria que eu saísse logo, pra não pegar trânsito, ele tem medo de acidentes. hahaha. já falei que eu dirijo bem, mas ele não acredita.
-nem me fale em acidentes, fiquei traumatizada depois do estacionamento.
-e a menina? você sabe quem é?
-olha, sei que é aluna da minha mãe, deve ter uns 17 anos, pra tá no cursinho, nem deve ter carteira.
-denuncia ela boba. faz pagar outro skate.
-hahaha, deixa a menina, ela é moh bonitinha. Pena ser barbeira.
-bonita é? hahaha.. pq você não se jogou no chão na hora e pediu pra ela cuidar de você?
-ai Yah, voce e suas idéias, me jogando pra cima das meninas. boba!
-ah Petry, nunca te vejo namorando poxa, ta na hora, as meninas todas pagam pau pra você.
- Ah, tranquila, você sabe! e nem é assim também "pagam pau".
-eu não sei de nada. hahaha.. nem vêm Petry, modéstia agora não. [risos]
-ai Yah, só você. então, será que vai dar bastante gente?
-não sei, divulgado foi, vamos ver neh.
-é.

(...)

"ai, essa não, essa também não, será que não tenho uma única blusinha mais despojada?"
perguntou Isa para o espelho, enquanto se arrumava, depois de ter decidido que não iria ficar em casa.
era sexta e quase nunca saia, seria legal ver a banda e todas as outras pessoas, mesmo indo sozinha.
Deixou um bilhete carinhoso para o pai, dizendo que sairia com as amigas, para que ele não ficasse preocupado.
Pegou a chave do carro e da garagem ligou para Lu, perguntando o local.
Saiu.
A cidade não estava tão movimentada quanto deveria numa sexta feira, talvez por ainda não ser meia noite.
Chegou rapidamente.
Várias meninas na frente do local.
Apesar de achar no fundo do armário uma roupa mais “normal”, só de olhar para aquelas garotas, Isa se sentiu um E.T.
Estacionou o carro, respirou fundo e desceu.
Entrou procurando por Lu e a avistou perto do palco, mexendo no seu baixo.
-Lu?
-Isa, você veio, cadê a Zara e a Gi?
-ah, elas não puderam vir.
-nossa, e você veio sozinha? que milagre é esse?
-não estava a fim de ficar em casa.
-hum.. vêm aqui que vou te apresentar pra galera.
-nossa Luh, só tem menina aqui?
-rs.. não se preocupe, a maioria delas é muito mais homem que muitos meninos por aí.
Isa sorriu sem graça.
- Gente, essa é minha amiga Isa. Esse aqui é o Lucas, o Marcito, a Cacau e o Diego.
O garoto apresentado como Marcito veio abraçá-la e soltou talvez o mais caloroso cumprimento que alguém já havia direcionado a ela.
- Oiiiiiiiii, querida!!!
Então Isa pensou que Lu estava realmente certa quando disse que a maioria das meninas por lá era mais homem que muitos meninos por aí.
Simpatizou com ele imediatamente. Conversaram alguns minutos, até que Lu chamou Isa para ir até o portão de entrada, ver se a vocalista de sua banda andava por lá, já que eram a segunda banda a se apresentar, quando duas garotas se aproximaram para cumprimentar Lu.
Isa reconheceu o rosto da garota de trás, por mais que agora não parecesse com raiva. Seus cabelos meio molhados e despenteados sobre aqueles olhos marcantes chamavam sua atenção. Sentiu-se envergonhada sem saber o motivo.
As duas abraçaram Lu.
- Isa, essa é a Yahara e essa que eu acho que você já conhece é a Petry. Hahaha
- É, já conheço. – falou desconcertada.
Petry, ao invés de cumprimentar a garota, fez uma brincadeira sarcástica e Yahara apenas deu um olhar cúmplice para a amiga.
- Você me deve um skate!
Todos riram e Isa sentiu seu rosto queimando de vergonha. Ainda mais ao ver que Lu havia se afastado um pouco, possivelmente encontrando a vocalista de sua banda.
Isa ficou alguns instantes olhando para o chão, ou para as pessoas que se amontoavam ao redor delas.
Lu voltou e antes que pudessem dizer qualquer coisa, pode-se ouvir a voz rouca da vocalista da primeira banda anunciar o começo do show.
- Vamos lá pra dentro! Essa banda é boa! A gente se vê lá dentro, meninas! – disse Lu, puxando Isa pelo braço sem dar tempo dela também dizer qualquer coisa que ela provavelmente não diria.

domingo, 4 de maio de 2008

Capítulo 3.

12:45, Isa não agüentava mais ouvir o professor Ricardo falando em cromossomos. Insistia em fazer cursinho, mesmo já sabendo a matéria toda, podia dar aula no lugar dele se quisesse, mas não queria, então ficava ali, sentada, esperando os últimos 15 minutos passarem.
Sente o celular vibrando, mensagem de Zara, o que será que a louca sentimental frustrada quer essa hora, pensa consigo mesma, já sorrindo. Um almoço com amigas. Fazia tempo que Isa não saia com as meninas, antes saiam juntas toda quarta, mas as aulas de inglês acabaram ocupando esse tempo. Ficou feliz porque as amigas sempre a faziam dar umas boas risadas, assim esqueceria o episódio do “quase-acidente” e das 6 aulas que desta manhã.
Se encontraram no mesmo restaurante de sempre. Já estavam todas lá esperando sorridentes e aparentemente famintas.
- Até que enfim, sua nerd! Depois de 10 anos de cursinho ainda tem que assistir todas as aulas? – disse Zara abraçando a amiga.
- Claro, Za! Espero que esse ano seja o último!! – respondeu Isa, abraçando a outra amiga, Gisele.
- Se continuasse na matemática já estaria se formando! – soltou Zara, sem pensar.
Isa ficou sem jeito e Zara percebeu, se lembrando de que ela desistira de matemática após a morte da mãe. Tentando mudar de assunto rapidamente, sugeriu que fizessem o pedido, acenando para o garçom. Ao se virar para ele, Zara avistou no canto uma velha colega, que havia feito cursinho com as três um ano após terminarem o colegial.
- Luuuu!!!
A garota se levantou e veio depressa sentar com as amigas.
- Nossa, vocês por aqui! Não perderam o costume? – respondeu Lu, abraçando todas.
- E ai, o que anda fazendo? – perguntou Zara.
- Ah... to fazendo música, em todos os sentidos! Faculdade e continuo com a banda.
- Toca guitarra, né? – perguntou pela primeira vez, Gisele.
- Nem, toco baixo. E vocês, o que tão aprontando? Não me digam que ainda tão no cursinho? A gente sempre vinha aqui depois da aula...
- Só a Isa, essa nerd. – respondeu Zara, a mais falante das quatro.
- Eita! Agüentando a Leonor ainda?
- Nossa, nem me fala... acreditam que quase atropelei a filha dela hoje? Gente, a menina é uma maluca, entrou na frente do carro de skate quando eu tava entrando no estacionamento! Mas eu nem sabia que era filha dela, só soube depois quando vi as duas conversando, devia ter atropelado mesmo! Hahaha
- A Petry??? – perguntou Lu.
- Não sei o nome dela.
- Uma doidinha de cabelo curto? Ah, se tava com um skate é ela mesma.
- É, acho que sim!
- Nossa, que mundo pequeno! Ela faz faculdade comigo!!! Na mesma sala.
- Sério???
- Sim. Mas não sou muito chegada, se é que vocês me entendem! Hahaha
- Como assim?
- Não lembra dos boatos, Isa? Sobre a filha da Leonor? Ela é sapatão! Hahaha
Todas riram.
- Nossa, nem lembrava – respondeu Isa.
- Eu lembro, já ouvi umas histórias cabulosas sobre ela, dizem que é mais macho que o pai! Hahahaha
E riram novamente de mais uma piada de Zara.
Isadora pediu licença e foi até o banheiro. Séria, lavou o rosto e ficou alguns minutos olhando o espelho, sem entender porque a situação deveria ser engraçada.Ficou pensando em Petry e tentando justificar aquele jeito grosseiro com que ela agiu, por causa desses boatos.
Voltou pra mesa e ao lado, sentaram alguns garotos que estavam conversando alto, quase gritando.
- Nossa, que molecada barulhenta!
- Poxa, Isa. A gente tava aqui paquerando e você chega reclamando deles? Hahaha. Foi só conhecer a tal da Petry e volta reclamando de meninos? Olha lá hein. – brincou, Zara.
Isadora perdeu a fome. Pediu um suco de laranja e ficou o resto do almoço pensativa, entre sorrisos forçados.
As meninas tinham coisas a fazer e resolveram ir embora, menos Isa que optou em ficar mais um tempo ali.
Já sozinha na mesa, ficou pensando em como Petry reagia as coisas que falavam sobre ela, criou uma certa imagem de uma pessoa amargurada, assim como a mãe, acabou se questionando se essa homossexualidade era verdadeira e se isso influênciava tanto na vida de uma familia.
Percebeu que a menina era um pouco 'masculinizada', mas isso não justificava nada. Poderia ser assim por andar de skate e isso não é regra para opção sexual, lembrou-se até que na infância quis fazer judô, que também não era um esporte muito feminino na época.
Pensou muito sobre a menina até que se deparou com a hora, 4:27 da tarde, tinha que voltar pra casa, arrumou as coisas que estavam na mesa, pois havia feito umas anotações depois do almoço, pegou a mochila e foi embora.
quando estava quase se aproximando de sua casa, percebeu que ainda estava pensando em Petry e se sentiu estranha. Achou melhor chegar e estudar, pra ocupar a cabeça um pouco.

sábado, 3 de maio de 2008

Capítulo 2.

Sonhava com o celular tocando quando escutou seu pai gritar: “Atende isso daí, Pê!”
Abriu os olhos assustada e ficou procurando o celular, seguindo pelo toque cada vez mais crescente.
Quando viu no display: "mãe chamando", já sentiu a vontade de se jogar para trás na cama, sabia que iria ter que levantar. Lá se vai o sono.
“Oi mãe. (...) Aham. (...) Claro que tava, o que eu ia tá fazendo acordada essa hora? (...) Ahhh, mãe, agora??? (...) Por que não pede pro pai? (...) Tá, tá, tá bom, vou levantar e já chego ai. Tchau.”
Desligou sem esperar a resposta. Permaneceu parada na cama por alguns minutos até que decidiu se levantar.
Tomou um banho rápido, se vestiu e não penteou os cabelos.
Talvez pra irritar a mãe, que sempre a pedia pra que deixasse crescer novamente.
Saiu do quarto e encontrou o pai sentado no sofá, tomando seu habitual café frente ao seu programa de culinária predileto.
Passou a mão no cabelo dele e deu um bom dia com cara de quem estava com muito sono, mas não queria mais brigas com a mãe, então cumpriria o pedido.
- Pai, onde tá aquele livro da capa azul, que a mãe sempre usa?
- Vê na estante.
ia até a outra sala quando o viu sobre a mesa e pensou em como a mãe era esquecida. Colocou o livro na mochila velha, toda escrita de corretivo por seus amigos, pegou seu skate e saiu.
Passou pela praça e se lembrou de Marcos, amigo de infância que foi embora para Portugal, deixando pra ela o velho skate surrado como uma relíquia. Logo ele estaria de volta, pensou.
Lembrou de como Marcos era bom no skate, sempre dizia que um dia seria como ele, o rapaz sorria encantado. Ele era daqueles amigos sempre presentes,
Petry o tratava como irmão mais velho. Sentiu muito quando ele foi embora para o exterior morar com uns tios. Sempre se falavam e ele perguntava se ela estava cuidando bem do "filho deles".
Muitos diziam que ele era apaixonado por Petry, mas ela preferia acreditar que era um bom amigo e sabia como ser prestativo.
Lembrou de um dia que estavam andando na praça e Marcos caiu, quebrando o pé e pensou consigo mesma que nunca havia quebrado nada.
O portão do estacionamento do cursinho estava aberto, não pensou duas vezes para interromper as lembranças e entrar por ali mesmo, já que cortaria uma volta. Estava olhando para os lados, tentando passar despercebida na área restrita a carros, quando escutou uma freada e fechou os olhos no susto.
Escutou o barulho de algo quebrando e logo pensou no skate.
Levantou rápido, preocupada, e se deparou com a motorista parecendo ainda mais preocupada, mas menos aborrecida do que ela estava.
- Você tá bem? É louca de ficar andando assim no estacionamento de skate? Não viu que aqui ninguém respeita?
- Ah não, não vi, você quase passa por cima de mim e eu não vi!
- Eu não passei por cima de você, que exagero! Além do mais você tá errada.
- Não passou por cima? E como você me explica esse skate quebrado? Aff, sai daqui patricinha.
- Patricinha? Você é louca?
Deu as costas para a menina, fingindo nem ouvir a última frase. pegou o skate como se não tivesse dado importância para o acontecido, sem olhar para trás seguiu e quando não mais podia ser vista, sentou-se por alguns instantes e ficou se remoendo de raiva, poucos sabiam do valor emocional daquele skate para que uma desconhecida qualquer fizesse uma dessas.
Caminhou com o skate, partido em dois, até as escadas.
Entrou no corredor, procurando sua mãe. Jamais gostara daquele colégio, dava graças a Deus de já estar na faculdade.
Seu curso não era bem o que tinha escolhido, mas foi se identificando aos poucos. Tinha feito vários amigos, pois seu jeito cativava as pessoas, era grosseira ao mesmo tempo que se tornou a palhaça da turma, bem humorada como sempre, conversava bastante, mas nunca falava de sentimentos, pensavam que ela era super fria com esses assuntos.
Só que na verdade era apenas reservada.
E lá estava ela, no velho corredor. Perguntou na secretária e se dirigiu até a sala 22.
Bateu na porta, quando alguém encostou de leve nas suas costas pedindo licença.
"Toda." _ respondeu.
e, ao se virar, deu de cara com a garota que havia quebrado seu skate.
- Ah, você...
Com uma cara feia, abriu a porta e se esquivou, a Professora olhou pras duas e se dirigiu a filha, apenas olhando feio para
Isadora, que se encolheu, passou pelas duas e sentou na primeira cadeira vaga.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Capítulo I.

Isadora acordou preocupada com a hora.

Maldito despertador, mais uma vez que deixava de tocar.

Seu pai já havia dito pra que ela comprasse outro relógio, mas Isa vivia atarefada e sempre se esquecia, a não ser quando tinha que agüentar as broncas que levava da professora Leonor.

Aquela professora não entendia que em cursinho, os horários nem sempre são seguidos a regra.

Isa não gostava de se atrasar e não era sempre que acontecia só quando ficava acordada até tarde conversando com seu pai, as crises dele estavam aumentando e estava cada vez, bebendo mais.

A falta da mãe de Isa era muita.

Ela havia falecido há 3 anos, quando Isa estava no último ano do colegial. Sempre fora uma mulher vaidosa, mas jamais havia pensado que isso pudesse causar sua morte.

Morreu numa mesa de cirurgia enquanto fazia uma lipoaspiração.

Um erro brutal do médico, na verdade.

Desde então, Isadora passa grande parte do tempo com seu pai.

Preenche, ou pelo menos tenta preencher, a ausência de sua mãe.

Desde o acontecido, Isa se bloqueou muito para a própria vida, puxou para si os cuidados com o pai e acabou até abandonando vontades que tinha antes.

Quando a mãe morreu, estava para prestar vestibular para matemática e a situação foi tão forte que acabou desistindo, colocou para si uma vontade terrível de assumir a responsabilidade de erros alheios.

Talvez tenha ficado traumatizada com tudo, o que sabíamos apenas era que de matemática passou a se interessar por medicina.

Hélio, seu pai, no começo estranhou a idéia, mas depois acabou cedendo diante os esforços da menina. Só não entendia porque durante 3 anos ela nunca prestara um vestibular.

Preferia mesmo continuar no cursinho até que pudesse ter certeza estar preparada. Não queria falhar, perfeccionista que era.

Por isso se irritou quando o despertador deixou de tocar mais uma vez.

Se arrumou rapidamente e entrou no carro sem nem tomar café.

Ela, que sempre dirigia de maneira responsável, naquele dia abusou um pouco, nem admirou a paisagem do caminho como sempre fazia, só acelerou.

Entrou um pouco rápido no estacionamento do cursinho, e apesar da velocidade do carro conseguiu frear quando uma garota com um skate surgiu do nada em frente ao carro. Isa sequer estacionou, abriu a porta com tudo e foi ver se tinha machucado a menina.

- Você tá bem? É louca de ficar andando assim no estacionamento de skate? Não viu que aqui ninguém respeita?

- Ah não, não vi, você quase passa por cima de mim e eu não vi!

- Eu não passei por cima de você, que exagero! Além do mais você tá errada.

- Não passou por cima? E como você me explica esse skate quebrado? Aff, sai daqui patricinha.

- Patricinha? Você é louca?

Falou com o estacionamento, pois a menina deu as costas enquanto ela se queixava da falta de educação. Saiu nervosa, revoltada com a garota. Tanto que havia se esquecido da Professora Leonor e a bronca sem nexo que provavelmente levaria ao entrar atrasada em sua aula.

 

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